Thursday, September 14, 2023

RUMO AO ATACAMA I

Terça, 12/09/2023

De Uyuni a Purmamarca

Saímos cedo de Uyuni, motos abastecidas e (mais ou menos) lavadas. Logo iniciamos a subida ao altiplano, em direção à fronteira com a Argentina em Villazón/La Quiaca, por onde tínhamos entrado na Bolívia. 


Uma hora depois, estávamos em pleno altiplano boliviano. Estrada ótima, curvas prazerosas, muito frio - pela primeira vez, as luzes de alerta para risco de formação de gelo na pista se acenderam nos painéis das motos (amarelo a 4 graus positivos, azul ou vermelho, conforme a moto, abaixo de 2 graus.

Nesse trecho, a estrada percorre os picos de uma das serras, de modo que o viajante pode ver os picos das serras vizinhas ao lado e na mesma altura. Assim, sabíamos que estávamos rodando a cerca de 4000 metros de altitude.

Quando encontramos um pico mais acessível ao lado da estrada, paramos as motos e Denis subiu para fotografar. A paisagem é nada menos que estonteante, em 360 graus. Pena que a fotografia não consegue fazer justiça à beleza da paisagem. As fotos que seguem foram tiradas naquele ponto, marcado em amarelo no mapa:




Continuamos em direção à fronteira, que cruzamos, sem nenhuma novidade - isto é, com muita demora, muita desorganização do lado argentino, que normalmente é muito eficiente, demora injustificada de quase duas horas e  inspeção de todos os volumes das duas motos.

Uma vez na Argentina, seguimos pela Puna e cruzamos os mesmos bloqueios da estrada, que ficaram sem registros devido ao esgotamento das baterias (na ida, o "gênio" que vos escreve havia levantado o capacete e filmado o céu azul 😒).

Isso foi uma pena, porque eram interessantes os acampamentos de população originária lutando por mais restrições às atividades antiambientais das mineradoras.

A passagem dos veículos era permitida a cada 4 horas, até terminar a fila de ambos os lados. Como não tínhamos esse tempo, negociamos com os manifestantes a passagem pelo lado de fora da rodovia, afinal era só ela que estava bloqueada.

A dificuldade é que bem no bloqueio havia um pontilhão a ser atravessado pelo lado de fora da balaustrada, para ser fora da via. Isso era por uma passagem de pedestres, inclinada, com cerca de um metro de largura, com areia e sem proteção do lado externo, e que tinha uma queda vertical de uns 5 metros - lembrando que estávamos com alforges nas motos... foi mais um pedacinho de aventura, com "um certo medinho" 😏.

Isto feito, conquistamos alguns sorrisos com um "que les vaya bien la lucha", e seguimos em frente.



No caminho a Purmamarca, na altura de Maimará, existem as formações das fotos a seguir, muito bonitas. Nessas formações as camadas sedimentares estão quase "em pé", de modo que o desgaste pela erosão criou esses desenhos  semicirculares.



Aliás, em Maimará vimos uma situação curiosa: há um morro ao lado da pista, com um corte onde há uma cemitério. Na parede do corte/cemitério, em letras garrafais, está escrito: "VISITENOS EN MAIMARÁ"!

Ao chegar no hostal em Purmamarca, cidade conhecida pelo Cerro de los 7 Colores, que não conseguimos fotografar por falta de luz, descobrimos que não havia posto de gasolina no lugar. Assim, com menos autonomia para a etapa seguinte, Denis foi obrigado a retornar 24 km para abastecer em Tilcara. 

Cerro de los 7 Colores, Purmamarca (Pinterest)

Em Purmamarca, a hosteria era ótima - um apartamento para famílias, com vários ambientes, e conseguimos negociar um bom preço para apenas duas pessoas. Única noite sem roncos mútuos!

Jantamos em um pequeno restaurante de cozinha regional, ensopado de lhama, que estava delicioso. Com as obrigatórias copas de vino, claro!

Monday, September 11, 2023

AO SALAR DE UYUNI

Domingo, 10/09/2023 e Segunda, 11/09/2023

Salar de Uyuni, Bolivia

Às vezes as viagens trazem boas surpresas, também.

Foi o que nos sucedeu durante o percurso de Tilcara a Uyuni, que passa através de boa parte da Puna, na Argentina, e do Altiplano Andino, na Bolívia. Este último fotografamos na viagem de volta, por questões de luz e também para evitar chegar à noite em Uyuni.

O trecho tem cerca de 470 km, porém as peculiaridades da estrada e da fronteira fazem com que o tempo de viagem aumente para 9 a 10 horas.

Outra coisa: a aceitação de cartões de crédito na Bolívia é muito limitada, portanto compre Bolivianos (pois é. Será que pensaram nos trocadilhos?)!

Puna em Jujuy

A Puna, nessa parte da cordilheira, é um altiplano, com altitude média de 3500 m, atravessado por serras no sentido norte-sul e que têm montanhas com picos entre 4000 e 4200 m. As formações rochosas são magníficas em muitos lugares, com linhas de falhas chegando a 90 graus, gerando desenhos muito interessantes onde foram cortadas pela erosão dos milênios de milênios.

Como o objetivo da viagem era visitar o Salar de Uyuni e o calendário é bem restritivo, não foi possível parar para fotografar essas formações. Uma pena mesmo.

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Cascata congelada eternamente, por não bater sol na parte 
mais quente do dia. A água corre por dentro. Está a 
3750 m de altitude, próxima à localidade de Tres Cruces.



Nos termômetros, 5 graus às 10 da manhã.


Fronteira Argentina/Bolívia (La Quiaca/Villazon)

Apesar de ser nominalmente uma fronteira integrada, ela pode ser considerada tudo, menos isso. O que existe é um conjunto de containers e prédios, cada um operado por um país, sem qualquer fluxo organizado nem sinalizado, além de vários agentes de imigração obviamente despreparados em ambos os países. 

Chegou-se ao cúmulo de termos que questionar a orientação de agentes, o que é extremamente desaconselhável, e até de haver um agente que passou uma cantada em um de nós...

Enfim, quase duas horas para atravessar uma fronteira "integrada", sem que sequer tenha sido feita inspeção das motos.

Uyuni, Bolívia

Denis esteve em Uyuni em 2015, em viagem solo.
 
Era caótica e pouco hospitaleira então, e pareceu ainda mais caótica e menos hospitaleira desta vez. 

Infelizmente, não há alternativa melhor para se poder visitar o Salar, este sim, uma das maravilhas da natureza, enquanto os homens deixarem.


Salar de Uyuni

O Salar de Uyuni é a maior formação do tipo no planeta. Trata-se de uma salina marinha natural, elevada juntamente com a cordilheira durante sua formação há alguns milhões de anos. É totalmente plana e, na época seca, solidamente cristalizada e totalmente trafegável. Na estação chuvosa, de dezembro a abril, uma fina camada de água salgada cobre todo o salar, proporcionando imagens refletidas muito bonitas. 

Visitar o salar é um privilégio, e fazê-lo por duas vezes uma graça. São mais de 12000 quilômetros quadrados (150 x 120 km) de imensidão branca e horizontes em todas as direções.

No período em que o visitamos, as placas de sal já estão bem consolidadas e suportam altas cargas, havendo mesmo tráfego de carretas através do salar. Apesar da evidente poluição, as marcas dos veículos são bem úteis para que o visitante inexperiente por elas se oriente.

Desde 2017 já houve cinco edições do Rali Dakar na América do Sul, todas atravessando a Bolívia e o Salar de Uyuni. Para marcar a primeira edição, foi construído o monumento de sal, da foto a seguir:



Quanto à infinitude do salar, as imagens a seguir falam por si mesmas:





Ao final do passeio, voltamos a Uyuni para comer e, principalmente, para lavar as motos, a fim de remover o sal que poderia ter se entranhado nos equipamentos e vir a provocar corrosão localizada.

E é essa a grandeza do salar. Três dias entre ir, visitar e voltar, mas VALE DEMAIS A PENA!!

CHEGANDO À CORDILHEIRA

Sábado, 09/09/2023

Ponto inicial: Tilcara, Jujuy, Argentina

Saímos de Coronel Saló, finalmente, com um dia claro e ensolarado. Haviamos deixado para trás a frente fria, tão atípica nessa região do Chaco argentino.

Nosso destino a cidade de Tilcara, em Jujuy, a 450 km e já a 2465 m de altitude.

À medida que nos aproximávamos, a paisagem ia se tornando mais verde e úmida, e as curvas iam aparecendo. O trecho é meio lento, pois atravessa várias cidades com semáforos de inacreditáveis 75 segundos de ciclo vermelho!

Paramos para entrar e conhecer a capital da província, San Salvador de Jujuy, onde almoçamos uma parrillada.

Ao sair, cometi o descuido de deixar cair minhas luvas de verão, já que íamos a uma loja perto dali para comprar luvas para o Orlando. Lojas fechadas no sábado à tarde. Somente então dei pela falta das luvas, voltamos ao local e lá uma pessoa nos disse que viu alguém "achá-las". Odiamos luvas!

Seguindo em frente, a paisagem foi se transformando, com várias cuestas em ambos os lados da estrada.

Cuesta entre San Salvador de Jujuy e Tilcara

Tilkara vista da Ruta 9, próximo à entrada da cidade.

Em Tilcara, rapidamente encontramos o hostal que tínhamos pesquisado e ali nos instalamos, saindo em seguida para alguns "refrescos". O hostal ficava numa ladeira, duas quadras acima do centro da cidade. Mas a vista desde esse caminho era linda!

Paisagem a caminho do bar.


Mais tarde, fomos jantar em uma pizzaria, onde comemos um calzone interesante, de cubos de cordeiro, cogumelos, queijo e cebola. Uma delícia, acompanhada de bom vinho.

Como se pode perceber, o Orlando estava com um frio localizado!


CRUZANDO EL CHACO

Sexta, 08/09/2023

Recuperando o tempo perdido

Depois dos perrengues da véspera, tivemos que decidir sobre o plano de viagem, pois ainda estávamos numa fase de dias inteiros na estrada, não havendo oportunidade de recuperação.

Assim, como havíamos perdido meio dia de viagem, a solução foi excluir um destino de meio dia também, no caso a cidadezinha de Iruya, na região de Jujuy. Uma grande pena!


Portanto, nosso próximo destino seria a cidade de Cel. Juán Solá, a 670 km, subindo pela Ruta 81. É uma estrada com raras curvas, dessas que reduzem à metade a vida útil dos pneus.


Um complicador foi a constante chuva trazida pela frente fria, que nos perseguiu pelos primeiros 500 km. E também houve um problema frequente na Argentina, especialmente na parte da manhã: filas imensas nos postos de gasolina. Nesse dia ficamos mais de uma hora aguardando serviço. 



O resultado é que levamos quase 10 horas para chegar a Cel. Saló, apesar do ritmo constante de 130 km/h. Chegamos pouco antes do por do sol.

Na pequena cidade de 9000 habitantes, era um dia especial: comemoravam o dia dos professores, com direito a desfile do diretor e professores pela rua, com bandeirinhas e aplausos dos alunos. Pena que só entendemos o que se passava depois de terminar, e não chegamos a fotografar.



ATRAVÉS DO PARAGUAI

Quinta, 07/09/2023

Primeiro a poesia, depois o perrengue

Cruzamos a Ponte da Amizade às 7 e meia da manhã, e conseguimos evitar o congestionamento das vans e ônibus e mototaxis. Que fique registrado que o "corredor polonês" construído para passagem das motos em fila indiana e velocidade reduzida  não foi pensado para motos maiores por alforges, ficando muito apertada a passagem, especialmente pelos meios-fios com 60 cm de altura no olhômetro.

O trânsito nas cidades nos faz lembrar de Nova Delhi ou Calcutá, mas a estrada é boa e a viagem progrediu bem. 

Como muitos postos de gasolina e pontos de apoio não operam cartão de crédito, compramos Guaranis na fronteira suficientes para atravessar o país, o que deveria levar cerca de 5 horas, para 390 km até a fronteira terrestre com a Argentina, em Clorinda.

Recuerdos de Ypacaraí

Já próximos a Assunção, passamos pela entrada para o Lago de Ypacaraí. Como ambos temos laços afetivas com o lago, cuja música-tema nossos pais amavam, resolvemos dar uma paradinha rápida. Denis já o havia visitado em 1970, e também estava curioso sobre sua conservação após tanto tempo.



Recuerdos de Ypacaraí é uma canção dos anos 50, com letra de Zulema de Mirkin e música de Demétrio Ortiz.  Para quem quiser conhecer, esta é a canção:



A Hora do Perrengue

Tudo ia muito bem. Havíamos - finalmente - conseguido negociar o trânsito horroroso de Assunção e estávamos nos aproximando da fronteira. A pista está em duplicação, com vários pontos de mudança de faixa, e um bocado de brita no chão.

Ao acelerar para trocar de pista, de repente a corrente da V-Strom arrebentou. Felizmente não havia tráfego em sentido contrário, e foi possivel atravessar a pista sem problemas.

A corrente era praticamente nova, com cerca de 5000 km, isso não era para ter acontecido. Como não encontramos o elo rompido, nunca saberemos se ela se rompeu devido a uma pedra que tenha se encaixado entre a corrente e a coroa, ou devido a um defeito de fabricação. De qualquer modo, corrente Vaz, nunca mais!


Eram cerca de 14 horas, ainda havia 350 km a percorrer, mas alí estávamos, parados no meio do anel viário de Assunção.

Mas não adianta chorar rsrsrs. Do outro lado das pistas havia uma pequena borracharia, e fui buscar informações sobre onde se poderia comprar uma nova corrente nova (emendar,  nem pensar. Além de não ter levado uma emenda, a corrente estava retorcida pela ruptura e enrolamento na roda).

O "gomero" (borracheiro), Daniel, era também mecânico de motos, por todos os deuses das coincidências!

Ele se revelou muito prestativo, e imediatamente se dispôs a me acompanhar a algumas tiendas (lojas) de motos pelas redondezas. Orlando emprestou a BMW e ficou junto à V-Strom, morrendo de sede, pobre amigo! O detalhe é que havíamos raspado os últimos Guaranis e comprado gasolina, de modo que não tínhamos dinheiro de boteco.

Resumindo a história, nas primeiras 6 lojas só havia correntes até passo 520, enquanto a da V-Strom é passo 525. Acabei conseguindo uma corrente DID da Teneré numa revenda Yamaha no centro de Assunção, que era idêntica, duas horas e meia depois. Cheguei ao local da quebra às 16:30, depois de enfrentar pela quarta vez o trânsito da capital paraguaia. Castigado, mas animado. E 120 dólares mais pobre.

Daniel tinha a ferramente e fez o remanche da corrente ali na beira da estrada. Me pareceu bem feito. Esse rapaz muito humilde, mecânico de motos mas empregado de borracharia, me tirou de uma situação em que teria que guinchar a moto para Assunção e ficar lá uma noite e parte do dia!

Nem preciso dizer que eu me sentia muito grato. Daniel não quis cobrar, mas fiz questão de retribuir a ajuda na medida do que eu teria gasto se ele não tivesse me socorrido.

Enfim, Argentina!

Dali até a fronteira ainda enfrentamos um temporal, com  raios e trovôes, que nos atrasou um pouco, mas foi rápido. Era a frente fria chegando, tudo cinza escuro até o horizonte.

Passamos rapidamente pela fronteira, mas já estava anoitecendo e nem pensar em percorrer mais de 300 km à noite e com chuva. Decidimos pernoitar ali mesmo na cidade de Clorinda, e repensar o roteiro.

Mas isso já é outra história.

ATÉ A FRONTEIRA


Segunda, 04/09/2023

Partida para Foz do Iguaçu

Como planejado, o Orlando iria a Foz do Iguaçu de moto, saindo antes, já que havia aderido ao passeio depois que Denis já havia enviado a moto adiante, para coletar em Cascavel.

Como sempre, o desafio é fazer caber tudo o que achamos necessário nos alforges e e malas da moto.

E, claro, como sempre, exageramos ao calcular o que era realmente necessário, especialmente no diz respeito a roupas, dadas as incertezas sobre o clima no início da primavera.


A BMW GS-850 "Azeitona" pronta para sair.

Dispor de malas de tanque é fundamental, facilita um monte a vida do viajante. Orlando a usa para documentos, acessórios de celular, dinheiro, etc, enquanto Denis leva aí uma câmara fotográfica, um power bank, canivete, intercomunicador reserva e, é claro, os adesivos com a marca da viagem.

Como saiu muito cedo, Orlando esperou amanhecer e tomou seu café no Rota 60, em Abadiânia.


Nesse dia, Orlando rodou 978 km até Presidente Prudente/SP, seguindo viagem a Foz no dia seguinte, sem contratempos.

Quarta, 06/09/2023 - Dia de "folga"

Orlando chegou a Foz sem novidades na noite de terça, e tirou o dia para conhecer as Cataratas do Iguaçu, que apesar do período seco estavam bastante cheias devido às recentes chuvas na região Sul.



Apesar de apreciar a beleza das cataratas, Orlando reclamaria por vários dias dos efeitos doloridos do sobe-e-desce nas encostas 😉.

O encontro

Denis foi de avião a Cascavel/PR, a 150 km de Foz do Iguaçu, onde o aguardava a sua Helga (essa mesma, a esposa do Hägar, o Horrível), uma Suzuki V-Strom 650 XT, companheira de várias jornadas. 
Após montar a bolha e os espelhos, seguiu viagem até o hotel em Foz, onde foram feitos os últimos ajustes na distribuição da bagagem.
Depois disso, bora jantar e tomar uma cerveja, que ninguém é de ferro!


A nota triste é que a Milka, a gatinha do Denis, ficou os primeiros dias junto à porta ou escondida vigiando a porta, mas ele não chegava...



Friday, September 1, 2023

PLANEJAMENTO

Nossas Intenções

Tudo bem que planos existem para ser alterados, mas planejar é preciso!

O mapa a seguir mostra a parte conjunta da viagem, e deve ser seguido no sentido anti-horário, de Cascavel/PR a Cascavel/PR.

Orlando ainda vai rodar Brasília/Cascavel/Brasília, o que soma quase 3.200 km, porém ainda não definiu o roteiro (será que ele vai detalhar? 😏)


Mapa



Roteiro

O roteiro, como sempre, é mais pesado na ida e na volta, e tem mais tempo e menos km nas zonas de interesse:



RUMO AO ATACAMA I

Terça, 12/09/2023 De Uyuni a Purmamarca Saímos cedo de Uyuni, motos abastecidas e (mais ou menos) lavadas. Logo iniciamos a subida ao altipl...