Monday, September 11, 2023

ATRAVÉS DO PARAGUAI

Quinta, 07/09/2023

Primeiro a poesia, depois o perrengue

Cruzamos a Ponte da Amizade às 7 e meia da manhã, e conseguimos evitar o congestionamento das vans e ônibus e mototaxis. Que fique registrado que o "corredor polonês" construído para passagem das motos em fila indiana e velocidade reduzida  não foi pensado para motos maiores por alforges, ficando muito apertada a passagem, especialmente pelos meios-fios com 60 cm de altura no olhômetro.

O trânsito nas cidades nos faz lembrar de Nova Delhi ou Calcutá, mas a estrada é boa e a viagem progrediu bem. 

Como muitos postos de gasolina e pontos de apoio não operam cartão de crédito, compramos Guaranis na fronteira suficientes para atravessar o país, o que deveria levar cerca de 5 horas, para 390 km até a fronteira terrestre com a Argentina, em Clorinda.

Recuerdos de Ypacaraí

Já próximos a Assunção, passamos pela entrada para o Lago de Ypacaraí. Como ambos temos laços afetivas com o lago, cuja música-tema nossos pais amavam, resolvemos dar uma paradinha rápida. Denis já o havia visitado em 1970, e também estava curioso sobre sua conservação após tanto tempo.



Recuerdos de Ypacaraí é uma canção dos anos 50, com letra de Zulema de Mirkin e música de Demétrio Ortiz.  Para quem quiser conhecer, esta é a canção:



A Hora do Perrengue

Tudo ia muito bem. Havíamos - finalmente - conseguido negociar o trânsito horroroso de Assunção e estávamos nos aproximando da fronteira. A pista está em duplicação, com vários pontos de mudança de faixa, e um bocado de brita no chão.

Ao acelerar para trocar de pista, de repente a corrente da V-Strom arrebentou. Felizmente não havia tráfego em sentido contrário, e foi possivel atravessar a pista sem problemas.

A corrente era praticamente nova, com cerca de 5000 km, isso não era para ter acontecido. Como não encontramos o elo rompido, nunca saberemos se ela se rompeu devido a uma pedra que tenha se encaixado entre a corrente e a coroa, ou devido a um defeito de fabricação. De qualquer modo, corrente Vaz, nunca mais!


Eram cerca de 14 horas, ainda havia 350 km a percorrer, mas alí estávamos, parados no meio do anel viário de Assunção.

Mas não adianta chorar rsrsrs. Do outro lado das pistas havia uma pequena borracharia, e fui buscar informações sobre onde se poderia comprar uma nova corrente nova (emendar,  nem pensar. Além de não ter levado uma emenda, a corrente estava retorcida pela ruptura e enrolamento na roda).

O "gomero" (borracheiro), Daniel, era também mecânico de motos, por todos os deuses das coincidências!

Ele se revelou muito prestativo, e imediatamente se dispôs a me acompanhar a algumas tiendas (lojas) de motos pelas redondezas. Orlando emprestou a BMW e ficou junto à V-Strom, morrendo de sede, pobre amigo! O detalhe é que havíamos raspado os últimos Guaranis e comprado gasolina, de modo que não tínhamos dinheiro de boteco.

Resumindo a história, nas primeiras 6 lojas só havia correntes até passo 520, enquanto a da V-Strom é passo 525. Acabei conseguindo uma corrente DID da Teneré numa revenda Yamaha no centro de Assunção, que era idêntica, duas horas e meia depois. Cheguei ao local da quebra às 16:30, depois de enfrentar pela quarta vez o trânsito da capital paraguaia. Castigado, mas animado. E 120 dólares mais pobre.

Daniel tinha a ferramente e fez o remanche da corrente ali na beira da estrada. Me pareceu bem feito. Esse rapaz muito humilde, mecânico de motos mas empregado de borracharia, me tirou de uma situação em que teria que guinchar a moto para Assunção e ficar lá uma noite e parte do dia!

Nem preciso dizer que eu me sentia muito grato. Daniel não quis cobrar, mas fiz questão de retribuir a ajuda na medida do que eu teria gasto se ele não tivesse me socorrido.

Enfim, Argentina!

Dali até a fronteira ainda enfrentamos um temporal, com  raios e trovôes, que nos atrasou um pouco, mas foi rápido. Era a frente fria chegando, tudo cinza escuro até o horizonte.

Passamos rapidamente pela fronteira, mas já estava anoitecendo e nem pensar em percorrer mais de 300 km à noite e com chuva. Decidimos pernoitar ali mesmo na cidade de Clorinda, e repensar o roteiro.

Mas isso já é outra história.

1 comment:

  1. O gomero é gente boa, ainda bem que estava ali, do outro lado da ruta, que bom que o encontraram. Aliás, gente boa se vê em qualquer lugar do mundo. Gente boa é a regra; gente ruim, exceção.

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